sábado, 4 de setembro de 2010


Amém


Pelo retrovisor enxergamos tudo ao contrário
Letras, lados, lestes
O relógio de pulso pula de uma mão para outra e na verdade... ]
[ nada muda
A criança que me pediu dez centavos é um homem de idade ]
[ no meu retrovisor
A menina debruçando favores toda suja
É mãe de filhos que não conhece
Vendeu-os por açúcar
Prendas de quermesse
A placa do carro da frente se inverte quando passo por ele
E nesse tráfego acelero o que posso
Acho que não ultrapasso e quando o faço nem noto
O farol fecha...
Outras flores e carros surgem em meu retrovisor
Retrovisor é passado
É de vez em quando... do meu lado
Nunca é na frente
É o segundo mais tarde... próximo... seguinte
É o que passou e muitas vezes ninguém viu
Retrovisor nos mostra o que ficou; o que partiu
O que agora só ficou no pensamento
Retrovisor é mesmice em dia de trânsito lento
Retrovisor mostra meus olhos com lembranças mal resolvidas
Mostra as ruas que escolhi... calçadas e avenidas
Deixa explícito que se vou pra frente
Coisas ficam para trás
A gente só nunca sabe... que coisas são essas... (O Teatro Mágico)
Ano passado uma hora dessas ela provavelmente estava em sua cadeira de balanço, na sala de sua casa, que por 5 longos anos era como se fosse nossa. Certamente tinha alguém para tomar o café da tarde com ela, para receber toda aquela alegria que só ela tinha...
Suas doenças nunca tiraram de seu rosto a vontade de viver cada dia como se fosse, literalmente o último. E ainda tinha as nossas brincadeiras e conversas até às 01h da manhã, regadas sempre com um leitinho morno, ou uma xícara de chá e biscoitos. A Maria Chica como eu costumava chamá-la, me contava várias histórias de sua vida, ou de alguém da família.
Lembro-me das datas comemorativas onde mesmo com limitações, fazia tudo com perfeição, nos mínimos detalhes que só a Maria sabia dar... seu altar de Fátima, a fogueira de São João, a lapinha de natal... que esse ano estarão somente na memória de quem a conheceu.
Hoje ao passar em frente a casa onde eu fiz parte, ainda não consigo me acostumar com aquela porta fechada, como se fosse um sinal de luto... tenho vontade de pegar minha chave, abrir o portão e gritar: ô Maria, cadê tu??rsrsrsrs... mas só consigo passar em frente e dependendo do horário, eu imagino que ela está dormindo ou foi à missa. Sinto um vazio, uma saudade enorme, uma dor que invade e inunda meu ser... e quando eu penso em ir lá, e lembro que ela não mais estará lá, ainda doi muito.
Mais sabe o que é melhor nisso tudo?? Saber que ela está morando em uma estrela, olhando por mim e por todos os outros que daqui mantemos o pensamento nessa pessoa maravilhosa que foi Lieta Rodrigues de Oliveira... Tomara que ai onde você está, eles tenham te recebido a sua altura... com muita alegria e campos brancos como os teus cabelos...

Saudades eternas, e eternas saudades...


(Texto produzido as 15h de hoje)