segunda-feira, 13 de setembro de 2010


   As pestanas compridas levantavam e desciam sobre os olhos amedrontados quase ao compasso da respiração ansiosa da menina.
  Tinha medo de ficar com os olhos abertos e ver o mal que rondava e tinha medo de fechá-los e ficar sem defesas.
  Os barulhos da noite! Folhas que o vento arrasta, móveis que rangem, pisadas solitárias na calçada...Tudo anuncia o momento terrível que vai acontecer.
  Abre os olhos. Todos dormem e ela sozinha velo o medo. O coração batendo tão forte... a vontade de vomitar.
  O relógio da matriz bate as horas. 5 badaladas. O sono chega de mansinho; afastando-o, temerosa de dormir.
  Só quando percebe a manhã nascendo, pela claridade que devolve às coisas o jeito de coisas, a menina respira fundo e se entrega ao sono, cansada da longa batalha travada durante toda a noite.
  Desta vez vencera. Nenhum demônio malvado a derrubara no precipício negro nem a levara para a caverna habitada por animais viscosos e frios.








(Trecho retirado do livro  "O Mundo de Flora", Ângela Gutierrez)